O 2º Campeonato Nacional de Baristas decorreu no passado dia 22 de novembro. O evento surge integrado na Portugal Agro – Feira Internacional das Regiões, da Agricultura e do Agro Alimentar que decorreu a par com a Alimentaria & Horexpo na Fil no Parque das Nações em Lisboa.
Organizado pela AICC – Associação Industrial e Comercial do Café em conjunto com o Capitulo Português da SCAE – Speciality Coffee Association of Europe, este campeonato apura o representante português no Campeonato mundial que irá decorrer em julho de 2016, em Dublin na Irlanda.
Após o primeiro dia de provas, chegaram à final seis concorrentes que tiveram de apresentar ao júri três bebidas: um expresso, um cappuccino e uma bebida de assinatura sem álcool.
Esta é ainda maioritariamente uma profissão masculina, não é de estranhar que apenas uma mulher tenha chegado à final. Os concorrentes, vindos de vários pontos do país dividiram-se entre os profissionais já no ativo e estudantes provenientes das Escolas de Hotelaria e Turismo.
O Júri dividiu-se entre o júri técnico e o júri sensorial, ambos avaliaram a prova de cada concorrente de forma meticulosa.
A juíza do Campeonato foi Sonja Grant, World Coffee Events Head Judge e sob o seu comando estiveram dois juízes técnicos e quatro sensoriais.
O júri técnico avaliou de perto cada gesto feito na confeção de cada bebida, aspetos como a limpeza da bancada, a moagem do café ou a utilização correta das ferramentas são pontos fundamentais. Já o júri sensorial focou-se na prova da bebida apresentada pelo candidato, equilíbrio e sabor estavam em jogo. Devemos ter em conta que cada concorrente escolheu e preparou o seu blend de café, que foi moído durante a prova.
A prova foi marcada pelos problemas técnicos da prestação do terceiro concorrente, David Coelho. O moinho encravou a meio da prova o que levou os juízes cancelar a prova e a darem a oportunidade ao concorrente de voltar a recomeçar de inicio a sua prestação depois de todos os outros concorrentes terem terminado.
Os problemas técnicos persistiram e David Coelho só à terceira tentativa e depois de mais de uma hora de pausa no campeonato prosseguiu com a prova.
Durante o período de deliberação do júri foi apresentada a Campanha de prevenção rodoviária “O cansaço é como a velocidade – Tem limites!”. Uma parceria da AICC e da Prevenção Rodoviária e que irá aparecer nos pacotes de açúcar que recebemos com o café.
No final e apesar de todos os problemas técnicos, David Coelho foi o grande vencedor do 2º Campeonato Nacional de Baristas. O pódio ficou completo com Verónica Cabeceira em segundo lugar seguida de Rui Carvalho.
O vencedor representará Portugal no World Baristas Championship em Dublin no próximo Verão.
Depois de passada toda a emoção do dia do campeonato a Drinks Diary esteve à conversa com David Coelho, o vencedor das duas edições do Campeonato Nacional de Baristas. Quisemos saber mais sobre a profissão de Barista e sobre esta paixão pelo café.
És eleito pelo segundo ano consecutivo o melhor Barista nacional, o que significa para ti?
David Coelho: Para mim esta vitória significa o coroar de todo um trabalho desenvolvido durante meses a nível pessoal. Este ano desenvolvi a minha preparação sem o apoio de qualquer equipa ou marca, basicamente ao fim destes anos como Barista quis testar se com a minha evolução seria possível voltar a ganhar uma prova deste nível com os meus conhecimentos. E assim foi!
Ao ganhar o ano passado tiveste a oportunidade de representar Portugal na Itália, o que trouxeste de lá? Como vês a profissão de Barista no nosso país?
D.C.: A minha participação no WBC foi a experiência mais incrível que tive no mundo do café. Ao estar entre os melhores tive consciência do longo caminho que Portugal e os seus profissionais têm a percorrer. O meu objetivo foi representar dignamente o meu país e absorver o máximo de conhecimento possível de forma a possibilitar o meu crescimento profissional, tanto tecnicamente como sensorial. O nível Barista em Portugal ainda é pequeno, mas aos poucos vai evoluindo, bem como a cultura de café que também vai modificando um pouco.
O que pretendes fazer a seguir? Em que medida é que ganhar este Campeonato influencia a tua carreira?
D.C.: Os próximos meses serão de preparação e foco para o Campeonato Mundial. Um começar tudo de novo! Selecionar o café, definir os perfis sensoriais e desenhar toda a prova com base nas exigências mundiais, que são diferentes de um nacional. No fundo esta vitória não muda radicalmente a minha carreira, dará sim mais valor e certificação de qualidade a todo o conhecimento que tenho e dará ainda mais valor a minha busca do máximo de conhecimento no mundo do café. Felizmente o mundo do café é algo que tem um conhecimento infinito, estamos sempre a aprender e a crescer um pouco mais. No futuro próximo a minha especialização tenderá mais para o foco no Processo de Torra e no desenvolvimento Sensorial, cada vez mais o Barista na verdadeira ascensão da palavra é quem interage com todos os processos de desenvolvimento do café.
Fala-nos um pouco do teu percurso? Como chegaste até aqui? Como surgiu a paixão pelo café?
D.C.: Eu estou ligado ao ramo da Restauração desde os meus 8 anos. Quando há sensivelmente 9 anos terminei a faculdade comecei a apostar em formações de pastelaria e de café. Ai surgiu esta paixão com a primeira Formação Inicial Barista. O meu verdadeiro desenvolvimento como Barista deu-se com a frequência dos cursos SCAE Barista Skills Nivel Intermédio e Nível profissional, na Academia do Café com a Sandra Azevedo. Aí obtive o verdadeiro contacto com o café de especialidade, com as verdadeiras origens do café e com as enormes sensações que um café de especialidade nos pode oferecer. Entretanto faço trabalhos individuais como Barista para empresas, faço aconselhamento técnico para empresas do ramo e Formação Barista em termos laborais.
Dependendo de que país é, de que região, que altitude é plantado, que características tem o solo, que varietais é composto e muitos mais fatores, o café pode oferecer flavours e aromas completamente diferentes. Não existe o melhor café do mundo, existe sim cada vez mais um conjunto de maravilhosos cafés que nos dão a sensação que o mundo do café é único e especial.
Qual o nome da tua bebida de autor? Onde te inspiraste?
D.C.: Este ano decidi não dar um nome a minha bebida, quero que quem a prove dê de sua autoria o nome que lhe vier à cabeça. A bebida foi de encontra à cremosidade e suavidade do meu café, para isso utilizei manga e laranja de forma a criar uma Espuma Vibrante com notas de fruta únicas e doces. Quando a criei quis dar destaque a Doçura, ao Corpo meloso e a delicada Acidez Málica do meu Café. Daí até criar todos os passos de elaboração da bebida foi fácil, dado que a escolha dos ingredientes foi a mais acertada.
A tua prova foi marcada pelo azar, começaste por partir uma caneca na preparação, depois a questão do moinho que encravou umas quantas vezes…. Como é que se lida com tanta tensão antes de um momento decisivo como uma final?
D.C.: A minha prova foi realmente diferente, enervante e emocionante. Foi realmente um teste às minhas capacidades de luta e dedicação. Primeiro tive o percalço de se partir duas chávenas momentos antes da prova. Depois como já tinha acontecido no Back Stage, o moinho, infelizmente, devido a sua fraca potência encravou. Ao todo em 2 dias foram 6 moinhos encravados. Admito que não foi fácil contrariar tanta infelicidade, ao fim de 5 meses de dedicação, tempo desperdiçado, muito dinheiro investido na preparação acontecer nos minutos finais tais problemas não é fácil encaixar isso. Mas naquele momento veio sempre ao de cima o meu profissionalismo e a minha paixão pelo Café, algo que nunca me deixou sequer equacionar desistir. O facto de ter sido pai há 21 dias apenas, saber que perdi tempo único com o meu filho para estar ali, fez-me nunca baixar os braços!
Participaste na edição anterior e nesta, como vês a qualidade do trabalho apresentado por todos os candidatos, há evolução?
D.C.: Felizmente notei muita evolução no que toca aos candidatos. Nota-se que as próprias marcas estão a apostar mais nos seus valores, na formação e estão a perceber melhor o conceito de café de especialidade. Isso é de louvar e espero sinceramente que no próximo ano os mesmos candidatos e outros estejam no campeonato a elevar ainda mais o nível e a prestigiar este nosso bem tão precioso… o CAFÉ! Apostem na vossa formação pessoal, procurem saber mais sobre café de especialidade, procurem descobrir mais sobre as origens e sobre as várias etapas que o café passa até chegar a chávena. Assim de certeza que serão melhores Baristas.
Um Barista não é um profissional que sabe apenas extrair expressos… um Barista na sua verdadeira ascensão da palavra é alguém que compreende e respeita todos os processos pelo qual o café passa até chegar ao nosso cliente! Desde o café verde, passando pela torra, análise sensorial até finalmente chegar ao consumidor. Ser um verdadeiro Barista é fazer essa ligação entre o café e o consumidor!
“25 Lugar do Mundo! Éramos 61 países e um nível geral brutal! A nossa prova foi intensa, apaixonante e muito profissional! E acima de tudo desfrutei imenso do que fiz. Acredito que nos representei muito bem, representei com orgulho a minha equipa D•Origen Coffee Roasters que tanto me ajudou e acima de tudo representei o excepcional café que tinha!
Obrigado a todos os que ajudaram a crescer tanto e a estar aqui em Dublin!”